segunda-feira, 28 de maio de 2012

AUTOPORTRAIT - A visão de si.

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AUTOPORTRAIT

A VISÃO DE SI

OLHOS



Estou conhecendo uma nova pessoa, sua história tem me chamado a atenção. Filho bastardo, não planejado e aguardado com expectativas e sorrisos. A vida o convidou antes mesmo do nascimento, para ser vítima e assim se comportar, carente de atenção, reconhecimento e prestígio. Sua infância, lembrada mais por fotos do que por simples e agradáveis memórias, passou rápido, na verdade, ele não conseguiu me dizer se realmente viveu as brincadeiras, as estórias, narrou até hoje apenas a sua convivência com primos, os demais eram adultos, de fala difícil, responsabilidades e preocupações. Tem uma irmã, agora um sobrinho, uma mãe, um pai, teve uma avó e só, a família se baseia nestes, poucos convidados para qualquer festa de formatura ou casamento, até porque, os primos estacionaram no passado, sim, segundo ele amigos vieram, mas o último agora, partiu através de carta, escreveu algumas páginas e foi voar... Em lágrimas me disse que foi sempre assim, uma única pessoa se aproxima, se torna fonte, mas se esgota e fim.

Em nossa última conversa, o conheci muito e soube que há muito mais para ser ouvido. Contou-me sobre uma adolescência complicada, chegou a ser obeso, criticado, se perdeu na sua identidade, ora era preto, depois cômico, outrora branco... Acontece quando se ado(l)e(s)ce. Disse de fases difíceis, casa sem luz, banhos frios e velas espalhadas e que a comida, nunca faltou, mas por várias vezes, teve vontade de ter e nada teve. Apegou-se então a Deus, crises acabam se tornando convites e foi o que aconteceu. Família católica, não tradicional, rezava o credo, o terço as terças, missa televisiva. Meu conhecido foca em um terço azul que teve, ficava na sua cama, presente familiar e ali, diariamente quando escurecia, as mãos e desejos passavam por aquelas bolinhas, com muita ordem e temor. Tornou-se então religioso, foi trazer dinheiro para a sua casa através de arte cênica, conheceu uma garota, pequena garota, do sorriso bonito que lhe apresentou a Bíblia e Jesus, me pareceu observando-o, que sente saudades... não sei se é da garota ou da Bíblia, talvez de Jesus. A Bíblia em sua casa iluminou a podridão, segundo ele. Coisas horríveis aconteceram, boas também, pessoas admiráveis conheceu que o auxiliaram muito, viajou, morou no mesmo Estado, mas saiu da família, do quarto, foi fazer amigos, conhecer gente nova e estudar Deus (pausa) como é que é? Questionei. Quando fui estudar Deus, Ele me estudou. Respondeu. E como Deus estuda agente? Novamente, indaguei. Ele senta do nosso lado, questiona e as respostas aparecem. Disse. Simples assim? Satirizei. Não é simples aceitar respostas sobre você, até porque, eu não queria ouvir várias delas. Levantou as sobrancelhas, lábios juntos do lado direito e me encarou. E ouviu... Foi atrás por quê? O acompanhei na expressão. Queria mudar em mim, o que homem nenhum consegue a não ser quem O fez. Hum. E? Mudou o que então? Insisti. Silêncio...lágrimas brotaram e me responderam, parecia que a mudança estava encaixotada.

Depois de alguns minutos, saída para o banheiro e cozinha, voltou com um copo de suco, me ofereceu, neguei, ele sentou na cama e foi dizendo que devido a desorganização familiar, constantemente presente, desde os 11 anos planejava casar. Se apaixonou, ela tinha uma irmã gêmea, as vezes as confundia, raras vezes. O primeiro beijo, no shopping da cidade, antes a preparação bucal recebeu balas fortes, talvez metade do pacote, o resultado foi um beijo babado, consequência dos lábios sedados, mortos. Mas foi bom, inesquecível. E comprou um caderno e neste, números de imobiliárias da cidade, queria uma casa. (pausa) Casa??? Pra...?? Casar...ja disse. Riu. Você beijou a garota uma única vez, comprou um caderno e queria casa pra casar? Minha boca estava aberta, aguardando resposta. Sim, aquela garota representava naquele momento o convite para uma fuga. Foi parando de rir, olhando nos meus olhos. E um garoto de 11 anos queria fugir para onde? Suspendi as mãos no ar, insatisfeito. Para onde o sonho dele o chamava. Poetizou. Seu sonho em meados de 1998, deveria ser os do Fantástico Mundo De Bob, ou de ser apresentador do Disney Club e não de casar...lembra não, da TV Cruj?? Tentei mudar o assunto. Lembro sim, eu dava tchau quando eles finalizavam “Cruj, Cruj, Cruj, tchau.” Ele me acompanhou no raciocínio e lembrança. Mas mesmo com a separação dos meus pais, eu queria casar. Não adiantou, ele retomou. Deve ter sido dolorido pra você né, pai de um lado, mãe de outro? Acompanhei.  Foi sim, mas a separação territorial foi apenas a interpretação do ensaio interno. Sei.

Continuou entre os goles de suco, falando sobre a primeira garota. Disse que quando ela mudou de colégio a esperou por alguns anos, até completar os 14, sempre em contato por telefone, até que foi menosprezado. Depois, quase aos 15, conheceu uma garota de rosto angelical, quase desvirginou-se, mas nada além ocorreu, embora descobriu reações do corpo que gostou. A primeira traição. Então, nessa época, com quase 16 anos, apareceu a garota da Bíblia e ficaram íntimos. Se conheceram bem, ocultaram uma paixão que foi revelado a poucos, como pecado, tanto que foi confessado e arrependido. (pausa) Foi em um confessionário?? Ri baixo. Quase... Ele riu alto. Dessa confusão momentânea, ficaram grandes amigos, mas a garota hoje, já está casada e bem distante e segundo ele, não sabe sequer a cor do cabelo, nem se já está gravida. E então, ele citou a palavra amor... Foi a primeira vez. (pausa) E amou virgem? Escondi a risada. É...nunca transamos. Mãos ali e acolá, beijos e desejos, nada mais. Mas eu sei que amei, de verdade. Foi intenso, me entreguei completamente, acreditava piamente de que naquele momento eu sonhava e vivia o sonho de Deus para a minha vida e ela também. Era linda, eu  gostava dos seus cabelos, sua maturidade e carinho. Conseguia enxergar a mãe dos meus filhos. Desabafou. Caramba, e ai? Fiquei surpreso com tanta emoção. E ai que errei...muito. No papel de pai e não de filho da família, adoeci, disse bobagens, queria afastá-la daquela vivência, sem perde-la...mas experimentei o que Deus deu aos homens: livre-arbítrio. Fui traído. Um riso forçado apareceu. É meu novo amigo, os dias de hoje são difíceis e mulher está mais arisca que homem. Tentei aliviar. Não, não...me desculpe. Quem me traiu foi o amor e não ela. Pensei que o amor era pra sempre e que tudo suportava. Mas aquele amor, desistiu de amar. Não suportou, não soube contemplar o insano e ser paciente. O amor me traiu. Os olhos dele entravam em mim. É...entendo. “Quanto tempo leva o coração, pra saber, que o sinônimo de amar é sofrer?” Disse o poeta Zé Ramalho, não é mesmo? Cantei desafinado para quebrar o clima. Gosto muito dessa música. Apreciou. Mas, na voz do Zé Ramalho. Desqualificou.

Eu gostei dele. Não no sentido atrativo, se é que me entende. Você me entende. Gostei de sua história, ficaria ali por horas ainda ouvindo, mas percebi que o suco havia acabado, as risadas haviam diminuído, estava tarde e ele tinha voltado a cozinha, questionando em alta voz se eu estava com fome, neguei, ele retornou, pediu licença e foi para o banheiro. Banho. Estava de saída, afinal era sábado. Cara, eu vou indo nessa. Afirmei. Calma ai, vou só tomar um banho rápido, preciso ir correndo encontra-la, estou um pouco atrasado, dai vamos juntos. Ele suplicou. Tudo bem. Concordei. Ele não tinha falado sobre namorada, ainda. Mas estava de aliança e na beira da cama, um porta-retratos sem foto, deitado, me aproximei, do lado uma foto, com ele na imagem, uma linda garota de belo sorriso, atrás da foto um código: ICO13.7. Leigo, fiquei curioso, pensei em perguntar, ele apareceu na porta de forma “Mestre dos Magos” e disse: Essa beleza era a que faltava no meu jardim pisoteado. Quanto a descrição atrás, te explico no caminho. E foi enxugando e colocando a roupa, além de ler meus pensamentos. Senti medo e curiosidade. Havia muito segredo em seus olhos.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

#OuvindoOQ?

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Como fazem vários meses que por aqui não apareço, pensei em voltar trazendo a todos a oportunidade de ouvirem um ótimo CD que pessoalmente, vou adquirir. Nesse novo espaço, #OuvindoOQ vou trazer a oportunidade de você leitor realizar o download de alguns cd's que aprecio. Peço somente que não comercialize, mas que possa experimentar o som e caso queira, adquirir o CD.

O CD de hoje é um Especial que a Globo fez de Ivete, Gil e Caetano, cantando músicas maravilhosas. Confira a listagem e caso desejam, façam o download abaixo.



01 A Novidade
02 Toda menina baiana
03 O Meu Amor
04 Tá Combinado
05 A Linha e o Linho
06 A luz de Tieta
07 Tigresa
08 Você é linda
09 Atrás da Porta
10 Super-Homem – A Canção
11 Se eu não te amasse tanto assim
12 Olhos nos Olhos
13 Drão
14 Dom de Iludir
15 Amor até o fim

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Observações Intrigantes

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Encontrar a mulher que queira apenas ser a sua companheira e construir uma história a dois não é uma incumbência fácil, você leitora, por favor, compreenda que não é uma crítica apelativa a todas vocês, até porque sei por parte das mulheres, da imensa dificuldade de achar um homem que deseje algo além do que o seu corpo e carícias, mesmo assim, necessito prosseguir se me permite, com algumas observações.

Os meus olhares perseguem os comportamentos sociais por muito tempo, talvez um hábito desenvolvido por leituras e curiosidades, sei que gosto da prática diária de buscar compreender os vários motivos que levam, por exemplo, a disputas noturnas de quem mais usufrui dos desconhecidos corpos espalhados por toda a cidade. Nessa querela é insignificante, na maioria das vezes, o nome, os gostos, a história, o que interessa é o momento e todas as sensações que este irá propiciar a vítima e seu “agressor”. O que me prende a atenção, principalmente nessa situação, são as possíveis consequências desse ato nada heroico e antes, o que motivou tais pessoas a saírem de suas residências em busca desse tipo de prazer aproveitador e egoísta.

Peço desculpas novamente, se agrido as suas opiniões sobre tal realidade, mas realmente não concordo com esse tipo de entretenimento. A plastificação do ser humano, feita de modo nada diferente, pois se utiliza também nesse caso de “calor e pressão”, acaba desqualificando todo o conjunto e subjetividade de cada um. Estou ciente, que a culpa não é única de quem faz as vítimas, mas também destas que aceitam receber, isso, não podemos ignorar. Defendo que desqualifica, porque repito, a busca é pelo prazer que o outro pode proporcionar agora, o antes, inclusive o depois, nada disso é atraente, logo o ser humano se torna um plástico que pode ser utilizado e jogado fora. Os homens sabem muito bem agir dessa forma, pensam que assim ficam mais másculos, porem ultimamente, parece-me que as mulheres praticam de forma contínua esse ato de “ficar”, até porque, se um homem sai de casa com esse objetivo, ele corre o risco de não “pegar” ninguém, agora, caso a mulher deseje isso em uma noite, tenha a certeza, que achará qualquer um para corresponder a sua expectativa.

Aproveitando desta percepção e de várias outras no universo feminino, lembro-me sorrateiramente de um dramaturgo grego chamado Aristófanes, que em 411 A.C escreve uma peça nomeada de “A Revolução das Mulheres” (ou “Assembleia das Mulheres”), em que através de seu personagem principal, nomeado de Valentina (que significa “forte”), narra o governo das mulheres, a mudança da cidade de Atenas e a resolução do problema das mulheres feias. Obviamente uma sátira a certas teorias da época, mas não deixaria de ser uma profecia aos anos vindouros. Retornando ao que abordo, o comportamento delicado, doce, de voz suave e atitudes puras foi trocado por algo agressivo, rude, de palavras e gírias de baixo calão, houve então uma troca, mulheres se impondo, se masculinizando e homens se afeminando, preocupados mais com o corpo, tamanho do pênis, cremes, manicure do que com um melhor emprego. Atualmente existem, por exemplo, várias famílias em que o homem fica em casa e a mulher sai cedo e retorna quase no outro dia, devido há 2 empregos que possui.

O intuito não é dizer o que é certo ou errado, isso é subjetivo demais para quem vos escreve e claro, para você que lê. Acho interessante essa brusca mudança, pessoalmente, me agride como descrevi em algumas frases acima, além de ser muito diferente tal situação. O curioso é que Valentina e as outras mulheres de Aristófanes decidem tomar o poder, pois não suportam mais a incapacidade dos homens. Talvez, as princesas não mais existam em grande maioria, porque cansaram de esperar por príncipes ilusórios, vivos somente em filmes, livros e nas mentes.

(PARÊNTESE)
O culto ao corpo faz com que hoje as femininas se interessem por aquilo que a mídia intitulou como belo, sexy e atraente, assim como os homens também procuram as mulheres frutas em seus mais variados sabores. Apagando a identidade de cada um, impondo um novo conceito de correto, as mídias sociais delicadamente, faz com que sejamos sabotados a querer o que todos anseiam. Sou um homem comum, nada atraente e confesso que me sinto constrangido ao me olhar no espelho e ver uma imagem totalmente diferente do que vejo na TV, revistas e internet, parece-me que o sucesso, o poder, a ACEITAÇÃO está ligado a elas e disso temos medo, de sermos rejeitados. Por isso uma busca desenfreada pelo corpo perfeito, as dietas rigorosas, as curvas e músculos do verão, os produtos e a tecnologia, tudo por uma boa aparência. Esquecemo-nos que podemos ser rejeitados também, por aquilo que sai da nossa boca e a correção disso é a mais importante e leva muito mais tempo do que imaginamos, pois não adianta pintar parede podre com tinta fresca.

Mesmo assim, vivendo nessa realidade descrita, sei que existem exceções para tudo, há ainda mulheres que sabem do seu valor e não se prostituem com vários somente para se sentirem desejadas, assim como há homens que respeitam os sentimentos femininos, buscam compreende-los mesmo no silêncio e estão dispostos a revelarem as mulheres que o romance existe e é possível vive-lo. Sei que sou um profundo admirador de filmes românticos, principalmente daquelas histórias que o casal parecem ter nascido um para o outro, se amam profundamente e mesmo com desentendimentos, frustrações, lutam um pelo outro, buscam fazer o outro feliz, sem esperar sorrisos em troca.

Acredito piamente no amor e sei que é possível vive-lo, pois hoje, tenho o prazer de desfrutar da melhor época sentimental que tive ao longo dos meus poucos vinte e quatro anos, alguém que em pouco tempo, me entende, aceita e se envolve juntamente com as minhas limitações e imperfeições, sempre dizendo que ama tudo isso. Algo raro, aliás, encontrei a minha exceção nesse mundo e para esse tipo de amor, Fernando Pessoa diz: “...se o achar... segure-o! Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala. O mais... é nada." Assim, tenho tentado agir. 
 

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