terça-feira, 26 de julho de 2011

Marcado para viver

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Eu não escrevo desde que os meus sentimentos ficaram paralisados, quando vi aquele corpo coberto e nele nada existia, alma, desejos, sonhos e o carinho de sempre. A morte que me atropelou na estrada da vida, sendo a primeira vez, fiquei arrasado. Feridas são saradas até hoje e não sei ainda a facilidade de ver alguém que ama partir e continuar normalmente seguindo em frente, não caro leitor, confesso a você, não sou o mesmo. As lembranças ainda me perseguem na minha solidão, a terceira idade espalhada na cidade, com seus cabelos brancos ao vento, metralha a minha memória das cenas que sinceramente, não quero esquecer. Caminhando, troco sorrisos e lágrimas, ninguém entende, exceto eu e Deus.

Acordo e preparo o meu café, alimento o corpo para prosseguir. Entro no banho, troco o xampu, dizem que é bom e necessário. Espalho o sabonete por todo o corpo, este ainda recheado de ondas, nas regiões abdominais. Passo um creme na face, esfrego, presente da minha irmã, segundo ela, minha pele ficaria lisa e doce como a dela. Inicialmente, achei um pouco estranho, o machismo instalado relutou, mas o óleo que me faz brilhar clamou para que fosse removido, então cedi e tem feito uma pequena diferença, apesar de achar que é mais minha fé do que o produto. Escovo os dentes, desejo que fossem mais brancos. Roupa, espelho e cabelo que cresce muito rápido, penso em rapar, enxergo a minha cara imensa e logo desisto. Saio de casa, ligo o som e deixo que cada melodia faça com que eu viva fora daquela realidade de ônibus lotado e caminho rotineiro. Canto, baixo, mas canto, quando me envergonho pronuncio as palavras sem som, principalmente as músicas estrangeiras, alias, é uma delícia cantar sem saber realmente o quê. Fui traduzir algumas letras esses dias, primeiramente para saber o que tanto gosto de fingir cantar e segundo, para estudo e curiosidade. Sabe, algumas músicas mesmo no português nu e cru, continuei sem entender.

No trabalho, as mesmas pessoas. Aquela menina tão linda, que evita conversar e eu também. Timidez as vezes distancia um casal que poderia dar certo. Mesmo assim, insisto em permanecer imóvel, estou a trabalho do bolso e das necessidades básicas, não de alimento para a alma. Na volta do trabalho, por exemplo, hoje passando em frente a uma drogaria, carro ligado, parado no estacionamento, no banco detrás, uma mulher e uma criança, correndo em direção aquele transporte, um homem. Na verdade, desejei ser ele naquele momento. Pai de família, acudindo o filho com a esposa em um carro popular. Sempre desejei crescer, por isso aproveitei pouco, a infância e adolescência. O meu desejo por ser pai é imenso, antes, é necessário uma mulher, mas não quero encontrá-la somente para usufruir de uma parte do seu corpo para que assim, me proporcione logo o que almejo. Antes de ser pai, preciso desejar ser jovem, namorado, noivo e marido. Gosto da ordem tradicional e muito a admiro.

Quero me apaixonar. E agora, talvez eu escolha “a pessoa errada”, segundo Veríssimo: “...Porque a pessoa certa faz tudo certinho. Chega na hora certa, fala as coisas certas, faz as coisas certas, mas nem sempre a gente está precisando das coisas certas. Aí é a hora de procurar a pessoa errada.”
 

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